Graduado
em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com especialização em
História do Brasil pela Faculdade Integrada de Patos e Mestre em Ciências das
Religiões pela UFPB, Siéllysson Francisco, que já lecionou história, geografia,
artes, ensino religioso, sociologia e filosofia, é natural de Santa Rita e
autor de dois livros: Santa Rita: A herança cristã do Real ao Cumbe e O lado
negro da fé: Irmandades de Santa Rita e Areia do século XIX.
Sua história com a sua
cidade de origem começa na Revolução de 30, quando seus avós paternos vieram do
sertão paraibano para Santa Rita em busca de tranquilidade. A atual casa em que
Siéllysson reside pertenceu a seus avós, “a música ‘A casa que vovô morou, que
meu pai herdou, que passou pra mim’ é real, ela é essa história, porque
pertenceu a meu tio, mas que era dos meus avós, foi passado pro meu pai e meus
irmãos passaram pra mim, tem um valor simbólico, um valor sentimental, então
Santa Rita tem esse valor pra mim”. Outro fator que colaborou para seu amor a
essa cidade foi a discriminação que sofria na escola onde estudava em João
Pessoa, por ser santarritense, assim a discriminação culminou numa forte
identidade com a cidade.
Por ser uma criança
muito agitada, teve por consequência déficit de atenção, o que na época não era
percebido, seus pais ou professores entendiam o
porquê do menino ter tanta dificuldade para aprender, devido a essa dificuldade
gerada, Siéllysson desenvolveu certa aversão a escola, o fato de saber que no
dia seguinte teria que ir novamente o deixava febril – sem fingimentos. “Eu
lembro que uma vez eu disse a minha mãe: ‘Mãe, eu queria morrer’, e mãe ‘oxe
menino, por que tu quer morrer?’, eu disse ‘pra não ir pra escola, porque no
céu não tem escola’”. Filho do proprietário da escola onde estudava, ele era
tratado de forma diferente, o que o fazia fugir da escola e matar aula, até que
o seu pai descobriu, lhe deu uma surra e o transferiu para uma escola pública
um pouco distante de sua casa, nessa escola teve seu aprendizado facilitado e
sua vontade de estudar instigada por uma ótima – e para ele, inesquecível –
professora. Após repetir a 7ª série (hoje oitavo ano) pela terceira vez – já de volta na
escola de seu pai – refletiu sobre o que faria da vida e decidiu estudar, “eu
estudei porque eu não queria varrer a rua”. “Sofri muito bulliyng por ter sido
reprovado, e tudo aquilo te dá uma sensação de que você não consegue, e ao
mesmo tempo eu disse ‘não, mas eu posso, eu quero e aí eu realmente voltei a
estudar’ (...) Hoje eu consigo falar tranquilamente sobre isso, mas isso é uma
coisa que bloqueou, por mais que eu caminhasse, eu não conseguia superar o
garoto da 7° série, porque esse garoto foi prejudicado pelos profissionais, que
hoje, alguns, eu trabalho ou já trabalhei com eles.”.
A opção pela
licenciatura veio em forma de dívida consigo mesmo, “como meus professores não
foram bons profissionais, eu queria fazer diferente. Eu acredito que a gente
passa na vida das pessoas e deixa marcas, marcas boas ou ruins, e eu queria
deixar marcas boas, eu queria na verdade contribuir na vida de outras pessoas e
eu achei que essa seria a forma mais próxima (...) então era um desejo de
superação.”. Certa vez, teve que dá uma aula a pedido de uma professora, que
juntamente com outros seminários apresentados nas aulas de Artes, percebeu que
tinha habilidade e facilidade para dá aula, “a licenciatura eu não vejo só como
profissão, vejo como vocação, um dom que vai além”; por ter sido uma criança
introspectiva, ao invés de falar sobre seus sentimentos, Siéllysson
expressava-os por meio de palavras, assim desenvolveu habilidade nas técnicas
da escrita, o que o ajudou a escrever sua monografia na conclusão do curso de
História e mais tarde a escrever seus dois livros, cujo primeiro foi produzido
na especialização e o segundo foi a dissertação do mestrado. Quando questionado
o que lhe dava mais prazer Siéllysson afirmou que lecionar era mais prazeroso
do que escrever, “como professor você tá formando cidadãos, tá formando ser
humano (...) é mais prazeroso pra lecionar, eu acho que nasci pra isso”, porém reconhece
que foi como escritor que ganhou reconhecimento, uma vez que o professor não
recebe tal prestígio.
O primeiro livro, Santa Rita: A herança cristã do Real ao
Cumbe tem um carinho especial do autor, pois este devia lecionar para o
ensino fundamental sobre a história de Santa Rita, no entanto não havia informações
suficientes sobre, então o autor saiu pela cidade tirando fotos de monumentos,
ruínas, igrejas antigas e engenhos. Tendo em vista todo material fotográfico
que havia reunido e a falta de documentos sobre a cidade, se interessou por
escrever sobre Santa Rita, para que a lacuna deixada pela falta de boas
informações fosse preenchida, todavia não sabia e não tinha recursos para
publicar o livro, foi então que após uma palestra onde explanou o projeto do
livro, o então prefeito santarritense se interessou e afirmou que financiaria,
porém, logo depois mudou de ideia, “ele achou que o livro era caro, que o
pedido era grande e que não iria fazer aquilo, rasgou toda papelada que já
estava assinada em cartório (...) mexeu muito comigo, porque eu nunca tinha
sido humilhado”. Após o ocorrido tentou a ajuda do Fundo de Incentivo à Cultura
e conseguiu, assim pode publicar o livro da forma que desejava. Com o segundo livro,
O lado negro da fé: Irmandades de Santa
Rita e Areia do século XIX, o autor foi indicado ao prêmio Dom Oscar Romero
de Direitos Humanos pelo CEDHOR e homenageado na Câmara Municipal de Santa Rita
como Mantenedor do Patrimônio Imaterial e Mantenedor do Patrimônio Cultural Histórico
Afro-Brasileiro Santarritense, além de o livro ter rendido uma reportagem no
programa Correio Espetacular, do Sistema Correio, e ganhou um reconhecimento
maior como escritor. Siéllysson conta que publicou este livro com todo salário
que havia recebido naquele mês e arcou com todas as despesas, tendo a certeza
de que o esforço havia sido válido quando todos os exemplares foram vendidos.
Atualmente, Siéllysson
também atualiza um blog, onde divulga seus trabalhos, posta textos de sua
autoria e entrevista personalidades santarritenses, “eu tive a ideia de trazer
pessoas de Santa Rita, que produz, que produziram (...) comecei a entrevistar
artistas, ou nascido em Santa Rita ou que mora na cidade e faz um trabalho
bonito, entrevistei psicólogos, artistas, professores, músicos, e cada um com
história de vida muito singular.”, ele também está escrevendo um livro de
crônicas, onde o tema será o cotidiano de modo geral, “pensei: eu posso
escrever uma coisa que vai estimular as pessoas, que vai fazer com que as
pessoas percebam que também podem escrever, que podem produzir alguma coisa e
bonita”. No momento, o livro de crônica é prioridade para o autor, que não nega
que tem ideias para trabalhos futuros, como um livro de artigos de historiadores
santarritenses.
O santarritense
considera que há uma diferença entre Siel e Siéllysson, o primeiro é o apelido
de infância, aquele que todos conhecem, o ser humano; e o segundo é aquilo que
este produz, é o mesmo ser humano porém com a visão que a sociedade lhe dá a
partir do que é produzido pelo mesmo.
Texto de Thayane Moreira
Imagem: Antônio Alves
(MOREIRA,
Thayane dos Santos. Siéllysson Francisco. In: Sandra Raquew dos Santos Azevêdo;
Lívia Maria Dantas Pereira. (Org.). Perfis em Jornalismo Cultural. 1ed. João
Pessoa: Idea, 2014, v., p. 71-74.) ISBN: 978-85-7539-875-3
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